De acordo com a matriz de avaliação da prova de Redação do Enem, a quinta e última competência a ser avaliada nos textos dos participantes é a elaboração de uma proposta de intervenção para o(s) problema(s) abordado(s) que respeite os direitos humanos. Isso significa que o participante deve não apenas problematizar o tema, refletindo criticamente a seu respeito, mas também deve sugerir ações que possam amenizar ou solucionar os problemas apresentados.
A diferença entre proposta de intervenção e ponto de vista
Como se trata de um texto do tipo dissertativo-argumentativo, é importante que o participante saiba diferenciar a proposta de intervenção de ponto de vista. O texto dissertativo-argumentativo, o qual é eleito pelo Enem para avaliar os participantes, tem o objetivo de deixar os leitores bastante informados a respeito de um assunto. Porém, diferentemente da dissertação, além de falar sobre o assunto, o autor do texto dissertativo-argumentativo deve selecionar argumentos em defesa de sua tese, de seus pontos de vista, para não apenas convencer, mas persuadir os leitores a acatá-los.
O posicionamento do autor do texto deve estar claro e deve ser defendido a partir de uma argumentação consistente, ou seja, aquela que pode ser comprovada com informações verídicas: pesquisas, porcentagens, reportagens, notícias, mobilização de outras vozes de autoridades no texto para concordar ou refutar suas ideias (pesquisadores, filósofos, estudiosos, sociólogos, profissionais da área etc.).
Dessa forma, sugerir ações e indicar agentes que possam solucionar os problemas a respeito da problemática discutida no texto não pressupõe que o autor esteja posicionando-se com relação às informações e argumentos. Na verdade, na proposta de intervenção, o autor do texto deve posicionar-se com relação ao que deve ser feito daquele dia em diante. Isso é diferente de se posicionar com relação às informações, notícias e pesquisas sobre o tema, as quais foram selecionadas pelo autor do texto para desenvolver sua argumentação.
O posicionamento (ponto de vista) do autor deve estar na tese inicial e ser reforçado na argumentação inserida no desenvolvimento do texto a partir de palavras como: (in)felizmente; concordo com; discordo de; um absurdo; é inevitável; ao meu ver; admito que; acredito que, etc.
Por exemplo, se o autor afirma que, após a implementação da Lei Maria da Penha, o número de vítimas de violência doméstica reduziu 20%, ele deve se posicionar: “Acredito que esse percentual seja ainda pequeno porque...” ou “Ao meu ver, esse índice é bastante representativo, pois...”. Cada informação inserida no texto deve ser seguida do ponto de vista para que o leitor reflita sobre o tema a partir da análise crítica proposta pelo autor.
O que fazer para obter nota 5 na proposta de intervenção do Enem?
O verbo "intervir" origina-se do latim “intervenire”, o qual apresenta dois significados: atuar diretamente, agindo ou decidindo. A proposta de intervenção deve ser convincente e deve estar relacionada com a tese apresentada na introdução e com os argumentos apresentados no desenvolvimento do texto. É extremamente importante que haja conexão, coerência entre os problemas discutidos no texto e a maneira como o autor procura solucioná-los ou amenizá-los.
Muitos participantes sugerem intervenção das instituições escolar e familiar, porém, durante a argumentação, esses agentes não aparecem. Por isso, procure trazer para a proposta de intervenção aqueles agentes que são responsáveis por solucionar os problemas apontados no desenvolvimento texto.
Para elaborar um boa proposta de intervenção, os participantes devem recorrer aos conhecimentos adquiridos ao longo de sua formação sobre as mais diversas áreas do saber, os quais são exaustivamente debatidos nas escolas. É preciso que o participante deixe claro que é um cidadão crítico e reflexivo e que, mais do que saber apontar problemas, ele sabe também o caminho para solucioná-los.
Lembre-se, também, de que a intervenção deve considerar a diversidade sociocultural e deve ser coerente com a realidade, ou seja, se ela é exequível (possível de ser proposta e efetivamente realizada), se ameniza os problemas a curto, médio e longo prazo.
A proposta de intervenção deve respeitar os direitos humanos, sobretudo o direito à vida, à liberdade. Isso significa que nenhuma forma de violência deve ser considerada como proposta, mesmo que, individualmente, o autor acredite que esse seja o caminho.
Além disso, a proposta de intervenção precisa ser detalhada. Isso significa escolher agentes específicos, que possam verdadeiramente intervir no assunto. Uma sugestão: escolha, pelo menos, três agentes, pois é pouco provável que apenas um consiga de fato solucionar os problemas. Outra questão relevante é que, se o participante sugerir que as pessoas precisam ter “mais consciência”, ele deve indicar de que maneira e por quem ela deve ser feita: Panfletos? Redes sociais? Rádio? Jornais e revistas (TV, impresso, digital)? Caso o autor não detalhe como a conscientização deverá ser feita, a proposta ficará apenas no campo das ideias, quando deveria ser posta em prática.
Para elaborar sua proposta de intervenção, procure responder às seguintes perguntas:
- O que deve ser feito?
- Quem deve fazer?
- Como deve ser feito?
- Quais objetivos pretendo alcançar com essas ações?
É importante que o participante não se esqueça de que a proposta de intervenção permite ao avaliador analisar os conhecimentos de mundo do autor do texto. Nesse sentido, o autor deve sempre buscar propostas concretas, específicas, exequíveis e que não sejam ações/projetos já praticados ou que estão em prática.
Por Ma. Luciana Kuchenbecker Araújo
Equipe EducaJovem