O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é algo que gera expectativa em quem vai fazer as provas. Independente do assunto, o texto sempre apresentará um problema e o participante terá que formular uma solução para o caso, a chamada proposta de intervenção.
Com experiência em cursinhos preparatórios para o Enem, Daniela Loro e Gabriela Araújo (Poliedro), Megy Abrão (Quero Bolsa e Cursinho da Poli USP) e Marcelo Pavani (Oficina do Estudante) trazem suas apostas de temas para a redação do Enem 2019.
Fim dos temas polêmicos
O Ministério da Educação (MEC) já havia anunciado que o Enem 2019 não terá questões consideradas polêmicas e “ideológicas”, referindo-se aos assuntos abordados em edições anteriores, mesmo posicionamento que deve valer para o tema da redação deste ano.
Com as mudanças no Governo e nas diretrizes do Inep/MEC, o diretor pedagógico do Oficina do Estudante, cursinho de Campinas, Marcelo Pavani, ressalta que é mais fácil “prever” assuntos que não estarão presentes na redação.
“Temas ‘engajados’, que sugiram pautas associadas a movimentos sociais ou a uma visão de mundo mais progressista, como questões identitárias ou de gênero, racismo, feminismo ou pautas LGTBQ+, bem como aquelas ligadas à preservação ambiental não devem aparecer na redação”. (Marcelo Pavani, Oficina do Estudante)
A aposta dos professores é de temas que possam ser consensuais na sociedade brasileira atual. “Pensando nisso, o tema deste ano tende a ser mais fácil de ser desenvolvido no texto”, ressalta a coordenadora de redação do curso Poliedro de São Paulo, Gabriela de Araújo Carvalho.
Temas para o Enem 2019
Discurso de ódio na internet
O acesso à internet possibilita a inclusão social e a troca de experiências entre pessoas de diferentes lugares, mas é o discurso de ódio que tem chamado a atenção com a popularização das redes sociais. Para Megy Abrão, os posicionamentos extremos na rede podem ser abordados com o tema “Os efeitos da cultura de ódio na internet”, promovendo a reflexão sobre os motivos que levam os usuários a serem agressivos e se juntarem em grupos para propagar preconceitos e atacarem indivíduos ou ideias com os quais não concordam.
Já Daniela Loro aposta em “Letramento Digital” como possibilidade de abordar o discurso de ódio. “É óbvia a dificuldade em lidar com a ferramenta (internet) e com a pluralidade de ideias”, destaca a professora, questão que ela considera como um paradoxo da chamada “Era da Informação”.
Volta de doenças erradicadas ou Movimento Antivacina
Doenças consideradas erradicadas após a massificação das vacinas estão voltando a aparecer, como é o caso do Sarampo no Brasil.
O principal motivo para o ressurgimento das doenças é o crescimento do movimento conhecido como antivacina, pessoas que são contra a imunização e colocam em risco a saúde pública. “Esse tema se relaciona com responsabilidade social e, sem dúvidas, traz implicações graves ao país”, ressalta Daniela.
Temas da área da Educação
Os temas ligados à Educação e ao ambiente escolar também estão entre as apostas dos professores para a redação do Enem 2019. Veja quatro possíveis assuntos:
Alfabetização: Gabriela de Araújo chama a atenção para as 11,5 milhões de pessoas acima de 15 anos analfabetas, uma taxa de 7% de analfabetismo segundo dados do IBGE. Os participantes podem falar sobre o direito à educação, fazendo um comparativo com os dados escolares dos brasileiros e propondo soluções para minimizar tal desigualdade.
Evasão Escolar: Como o Brasil apresenta a terceira maior evasão escolar do mundo - dados Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – o tema é importante para ser abordado no Enem 2019. É possível se sair bem fazendo uma análise do perfil das pessoas que mais abandonam os estudos e seus motivos, trazendo uma solução para esta parcela da população.
Educação Domiciliar: Projeto de Lei do atual Governo (que pode mostrar um posicionamento da nova temática do Enem), a Educação Domiciliar pode ser abordada levando em consideração a qualidade da educação brasileira e de que maneira o estudo em casa pode ser positivo.
Violência nas Escolas: Daniela Loro destaca os acontecimentos recorrentes de violência nas escolas e a necessidade de reflexão sobre o tema. “Um espaço para o desenvolvimento do saber e formação cidadã, ao se transformar em um território agressivo, significa também declínio das instituições familiares, políticas e sociais”, ressalta.
A violência no Brasil e a redução da maioridade penal
O atual governo aposta na redução da maioridade penal como diminuição do envolvimento de jovens nos crimes, mas há uma discussão se essa é a melhor saída ou se haverá um aumento no número de prisões e crescimento do já sobrecarregado sistema prisional brasileiro. Os estudantes precisam usar as estatísticas atuais para se posicionarem sobre a temática.
Uma forma de abordar o tema é a analisar os motivos que levam os jovens ao crime. Megy ressalta que de aproximadamente 60 mil pessoas assassinadas em 2017, a maior parte é composta por jovens, geralmente negros e que moram nas periferias de grandes cidades.
Migrações e a questão dos refugiados
O Brasil é um país que recebe imigrantes e refugiados diariamente, em especial os venezuelanos que buscam refúgio em terras brasileiras, sendo a porta de entrada o estado de Roraima. Megy aposta na possibilidade de se abordar os ataques aos estrangeiros que se encontram nessa condição e como combater a xenofobia.
Combate à depressão na sociedade brasileira
O número de suicídios no Brasil chama atenção para os efeitos da depressão na vida das pessoas, doença que, por vezes, é neglicenciada. Uma redação do Enem com tal tema pode trabalhar as políticas públicas para prevenção de suicídios, assistência para quem tem depressão ou outras doenças psiquiátricas e estimular a busca pelos cuidados com a saúde mental.
Exploração Sexual Infantil
A exploração sexual infantil é algo presente na sociedade brasileira e com muitos dados para que o estudante possa se basear para seu texto. “É um tabu e perpetua algumas mazelas sociais, como a perpetuação do círculo de pobreza, a cultura da violência, o machismo, o abuso de poder”, relata Daniela.